terça-feira, 13 de setembro de 2011

IRON MAN
 visto pelos olhos de uma leiga.
Por Adriana Ramos Trochmann.
Muita gente, de todos as classes sociais de todas as idades e pesos, do Juiz ao moto boy do jovem de 19 ao ancião de 80 anos, da jovem escultural corpo torneado  ao obeso de 120 kilos, o mais importante neste esporte é concluir a prova, que percebe-se não é fácil, não é para qualquer um fazer, além de preparo físico tem que ter o preparo psicológico.
Mas o que faz uma pessoa  sedentária  querer realizar esta prova, já que os atletas treinam em média  de 6 a 8 horas por dia além de fazer um acompanhamento com Personal , nutricionista, ortopedista, massagistas entre outras coisas que geralmente são patrocinados  por uma empresa, então me questiono o que faz um cidadão comum a querer fazer um esporte tão extremo????? Afinal  a inscrição é correspondente a quase dois salários mínimos, não tem premiação em valores, os equipamentos são muito caros, uma bike “boa” varia entre R$10.000,00 a R$60.000,00, sem contar a roupa de natação para o inverno as sapatilhas para as pedaladas e as roupas que ajudam a eliminar a transpiração mais rápido...nossa muita coisa...muito caro.
Quando chega a hora de levar as bikes para verificação, já começa a adrenalina apontar, todos se olham como se quisessem dizer “você também vai” ou “Você também é maluco” ou ainda “você não tem cara que treinou, vai sofrer”, é muito estranho ver homens e mulheres vestidos “bem parecidos” muita roupa apertada, muito tênis colorido.
No dia “D” todos demonstram total segurança, fazem poses para as fotos, passam creme no rosto, pescoço e acreditem, muitos passam vaselina no corpo para deslizar melhor a roupa de natação....uohhh, fazem questão de alisar suas bikes, afinal elas custaram o OLHO DA CARA.
Começa a contagem regressiva, uma pessoa grita CINCO MINUTOS, nossa a multidão de 850 participantes se transformam em 3.000 pessoas eles crescem incorporam o INCRÍVEL HUCK ficam GIGANTES. Começam então  a sessão de abraços, pedido de torcida, olhos lacrimejados pelos pais, cônjuges e filhos todos vibram todos sofrem todos acreditam.
DOIS MINUTOS e já de longe apenas acenamos com os braços para cima e um sinal de positivo.
Dispara a buzina, meuuuu... que barulho ensurdecedor, todos correm para a água  alguns  mais desesperados outros com calma e prudência, afinal estão alí apenas para concluir, porque nesta prova perdedor é quem desiste da prova, de repente você só consegue ver as toquinhas que de longe parece mais um cardume de peixinhos coloridos, eles vão se distanciando e aos poucos só os braços e a agitação das águas aparecem, sem ninguém esperar, aponta um jet ski trazendo um participante rebocado, todos chegam mais perto com o coração na mão pensando que é o seu atleta favorito, o atleta sai da água cabisbaixo porém aplaudido por todos, afinal não é fácil nadar 1.900 metros principalmente para quem  tem pânico do mar, câimbras, e aquela sensação de não sentir o chão...gente deve ser horrível..uuuiii, para quem tá acostumado a nadar em piscina onde você consegue visualizar o chão, a marcação, o final do paredão...!! nossa que sofrimento.
Passado 21 minutos, isso mesmo 21 minutos, aparece o primeiro participante, aquele que tem Personal, treina pra cassete, aliás só vive disso, e ainda tem que vencer para continuar ganhando o patrocínio; sai da água como se estivesse saindo de uma piscina, um pouco inchado mas com a aparência tranquila, dá aquela olhadinha para trás e não consegue disfarçar um sorriso do tipo “esta prova é minha”, aos poucos lá pelos 23 minutos começam a ficar mas perto os demais participantes, estes já saem d’água mas ofegantes, já se despindo da roupa de borracha (acho que é), correm feitos loucos desesperados atropelando os Staffs.
Mas adiante lá pelos 35 minutos apontam no mar os que treinaram nas horas de folga, as braçadas mas lentas a respiração mas acelerada, nota-se naquele momento um olhar de dor alguns saem da água cambaleando, tontos, exaustos , trocando os pés, sem força para tirar a roupa de borracha, pedem ajuda aos staffs, caem no chão gritando “CONSEGUI, O PIOR JÁ PASSOU”.
Quando conseguem se livrar da roupa, da touca e do óculos de natação, começa a outra tortura “A PEDALADA” nada mais dos que 90 km, só em pensar já fico cansada, meu Deus que loucura, passam em média de 2 a 4 horas pedalando numa velocidade imensa, eu quase não consegui tirar as fotos..srrs Alguns (aqueles que só pensam em concluir )conseguem parar um pouco para usar os banheiros químicos que foram colocados na estrada, os que recebem o patrocínio e os que não sabem apenas concluir  fazem na Bike mesmo..uiii que nojo.!
Na estrada as crianças gritam para os ciclistas jogarem as garrafinhas “SQUEEZE” é a festa da garotada, percebi que alguns pedalavam perto demais uns dos outros como se quisesse “ir no vácuo” linguagem peculiar deste esporte, outros porém iam “capengando” solitários, passam pelo público fazendo “Caras e bocas”, o sofrimento é estampado na cara, chegam a trincar os dentes.
Passado as quase 3 horas de pedaladas vem então o último dos desafios a meia maratona, nesta hora você vê de tudo, o gordo, “correndinho” comendo club social, o todo tatuado caminhando e tomando coca cola, o senhor de 75 anos todo “estiloso” quase que saltitando, a moça “top” sorridente e a moça que pensa que é top com síndrome do “TASSI” “TASSI ACHANDO”, mas também vemos os que se emocionam e nos emocionam demonstrando sua força além do normal, alguns passam do limite, choram gritam, mas continuam, suas deficiências são superadas a cada obstáculo ultrapassado, a chuva, o frio e o vento dá mas garra aos guerreiros, sim porque nesta altura do campeonato os primeiros já estão recebendo a medalha, e para estes ainda faltam em média 3:30 hrs para terminar o total de 21 km.
Nesta hora a gente começa a ver o quanto este esporte faz a diferença, um impulsiona o outro a não desistir, “Vamos, não para, tamo junto”, “A câimbra faz parte, não desista”, “Vou contigo para você não desistir”, “Põe sal na língua e toma energético” “Vamos, tá quase acabando”....e é nestes sons que fico imaginando que os atletas não estão nem aí pra quem vai chegar com minutos de diferença, o importante é terminar.
Começa a premiação dos primeiros colocados, aqueles que fizeram em menos de 4:00 horas todo o trajeto, sem muita emoção poucos na plateia batem palmas debaixo de chuva, mas na verdade a maioria ainda está ali para receber os seus “VENCEDORES” aqueles que brilharam desafiando seus limites, quebrando os recordes por eles estipulados, sim os mesmos que queriam desistir mas nós não deixamos, ficamos juntos incentivando e dando apoio moral.
Quando começa a apontar os nossos campeões depois de 6:30 horas de prova ao longe, nossos corações dispara, os olhos lacrimejam e dá uma vontade louca de gritar “Eu sabia, você conseguiu” “Eu te amo”, não tem como conter as lágrimas, realmente uma prova que faz que todos se emocionem e sofram juntos.
Bom...não sei quem inventou este esporte, mas imagino que sua maior intenção era provar para o mundo que possuímos uma força extra dentro de nós e que somos capazes de enfrentar obstáculos e desafios quando realmente possuímos em objetivo “Ultrapassar nossos limites”.
Adriana Trochmann, esposa de Anderson Luiz Trochmann que concluiu a prova do meio IRON MAN na Penha –SC em agosto de 2011 em 6:43:08.